Dando sequência ao tema As Músicas De Minha Vida, ofereço-lhes uma homenagem ao meu ídolo de infância e inspirador direto em cultura de canções populares. Marcelo Arantes, o meu primo músico, ator e roteirista, talentoso e dono de um carisma jovial, capaz de hipnotizar uma grande platéia.
Era manhã de domingo, eu não sei muito bem, precisar o ano do ocorrido, mas levando em conta que a banda gaúcha Nenhum de Nós lançou seu primeiro LP em 1987 e entre 1988 e 1989, Camila, Camila "foi a canção mais executada em rádios brasileiras" (Wikipédia), atingiram-me diretamente no peito, através de um cover inspirado entre meu primo e seu amigo que não posso mencionar o nome. Sei que ainda cursava o antigo primário na escola do meu Conjunto Alvorada. Então, provavelmente era no segundo semestre de 1988 ou em 1989. Eu gostava da Renata...
Pois bem, na ocasião, meu pai levava a família para visitar o seu irmão Alecy Arantes, marido da tia Terezinha e sua prole - Sandra, Marcelo, Denise e Cláudia, além de um cachorro muito chato e feroz... O meu "tio Lecy", que canta e compõe canções caipiras tradicionais. Este meu tio, na juventude, formava dupla caipira com meu pai, William Arantes. Muitos anos mais tarde, a dupla se reuniu para a gravação de um CD, mas a participação de meu pai foi estritamente como violonista solista em alguma parte do disco, juntamente com o genial "Tio Esio" Arantes.
Voltando ao que interessa, eu com os meus prováveis 9, ou 10 anos de idade, me deparei com a cena artística mais marcante do final da minha infância. Meu primo e seu amigo-parceiro, cantavam alucinadamente, a canção Camila, Camila e enquanto meus pais e irmãs desciam a escada que dava acesso à casa de nossos parentes, eu me via paralisado, com todas as percepções aguçadas e completamente imóvel, apreciando cada batida ao violão, gestos e feições. Ao terminarem a performance, meu primo já rapazinho, entre seus 13 ou 14 anos, nem deu moral para quem havia chegado e tratou logo de se dissipar nas ruas do Daniel Fonseca, tradicional bairro uberlandense, saída para Goiânia.
Como o violão foi se tornando o meu alicerce, fui naturalmente me interessando por acompanhamento de canções populares e logo que me descobri apaixonado pelo Rock Brasil 80, tratei de procurar meu primo, lá naquele mesmo lugar, loooonge do meu bairro e me lembro bem de ter saído de sua casa, bem de noite, com um "sovaco" cheio de revistinhas de cifras oitentistas e o outro braço com mais materiais musicais. Confesso que meu primo foi super generoso e eu acho que não devolvi o material até hoje! Logo adiante, certamente ficou como investimento cultural naquele grupo de amigos do Alvorada, W. Jr, Odilon, César do pagode, enfim, aquela galerinha sedenta por música e que compartilhava tudo de tudo com todos os amigos-irmãos... (saudade bate doído).
Então, Camila, Camila, tem um arpejo de violão tão marcante em ré maior com nona, e vai se desenvolvendo por acordes previstos da tonalidade. Musicalmente é único, e toma conta, logo vem um fá maior de empréstimo modal e tem partes contrastantes que caminham para o ponto culminante de refrão que é nada mais, nada menos que verdadeiros berros com o nome de Camila, numa poética bem dramática, sentida, e eu adoro isso!!! Ouso dizer que o único "defeito" desta obra prima pop brasileira, é possuir uma extensão melódica muito difícil de alcançar. O grave é verdadeiramente grave e o agudo máximo da canção é digno de quem realmente domina a parada! Resumindo, é para poucos cantarem com conforto.
Eu adorava pedalar minha bicicleta vindo do Santa Mônica, descendo aquele viaduto do pontilhão na sequência da avenida Segismundo Pereira, sentindo a ventania no peito, em boa velocidade, solitariamente, empinando a "bike" e me sentindo totalmente livre, berrando Camila, Camila até chegar no Alvorada. Só eu sabia disso!
Hoje em dia, sempre que apresento o acorde de "D9" (ré maior com nona) para os meus alunos, dou o exemplo do arpejo de violão, e vou cantando a música até o grito do refrão. Tenho certeza que faço "neguinho" derreter na escuta. Eu canto com toda a verdade de um garoto de 9 anos, alucinado com este poderoso hit nacional.
Meu talentoso primo, sempre muito presente (afilhado de meu pai), me influenciou intensamente, interpretando diversas canções de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Cazuza, Barão Vermelho, Lulu Santos, Paralamas do Sucesso, Alceu Valença, The Beatles, roquenrol, música nordestina, mineira... Acredito que nosso parentesco e amizade seja algo místico, muito especial, talvez programado pelo Universo, pois, retomando esta parte de minha vida, percebo que nosso contato direito foi determinante para que eu me tornasse o músico que sou, de bom gosto e diversidade estilística. Sinceramente, não sei como lhe agradecer meu querido primo do coração Marcelo Arantes, sou seu eterno fã!!!
2 comentários:
Sou sua eterna fã!
Belíssimo texto.
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