domingo, 25 de dezembro de 2016

As Músicas Da Minha Vida (3) - João E Maria


                    Natal de 2016, perguntei à minha mãe uma Música De Minha Vida. A resposta da mulher da foto acima, veio logo de cara, João e Maria! É, foi uma meia-inocência minha, pois trata-se da obra que compõe meu repertório mais "exigida" por minha mãe desde que a decorei. Certamente, pelos idos de 1999, quando o meu saudoso professor da disciplina Violão, na graduação em Música - UFU,  Fanuel Maciel de Lima Junior, lançou seu caderno de arranjos, onde João e Maria figurava entre as canções escolhidas pelo mestre.

                    Na época, eu era recém aprovado nos Cursos de Música da UFU, portanto, minha leitura de partitura ainda era fraca, limitada, ou melhor dizendo, pouco trabalhada. No caderno, obras do maestro Tom Jobim, Chico Buarque, Djavan, entre outros grandes mestres da harmonia, apresentando aqueles acordes tensos, aliados aos ritmos brasileiros, consequentemente, "chatinhos" de ler. Chatinhos não, trabalhosos mesmo!

                    Eu não deixaria de tocar uma "Atrás da porta" por João e Maria, nunca! Mas, a preguiça de realizar a leitura do arranjo falou mais alto, e aquele famoso "deixa pra lá, depois eu encaro", falou mais alto. Bem, preciso me defender não é?! Não foi preguiça, pois eu já tinha o repertório (erudito) do Bacharelado em Violão para encarar... Daí, eu olho para a partita da música e, pronto!!! Fácil, uma notável  melodia, poucas notas de acompanhamento, quase nada de ritmos sincopados e caminho aberto para explorar minha maior virtude ao violão, a sonoridade!

                     Rapidamente decorei o arranjo e confesso que foi das maiores oportunidades que tive para desenvolver minha interpretação. O que tinha de "pobreza" harmônica e rítmica (comparada às outras do caderno), tinha de riqueza melódica e a possibilidade de contar uma verdadeira história através daquela longa e intensa melodia. A música tem uma segunda parte contrastante, onde eu "nado de braçadas" (como diria meu saudoso pai) e dramatizo ainda mais a história original, onde duas crianças se perdem...

                     Eu não conhecia a música. Isso soa como um absurdo no mundo dos arranjadores / intérpretes, pois antes de estudar uma obra, geralmente estudamos os bastidores, ou procuramos saber algo importante da peça, de modo a realizar uma interpretação consciente em estilo. Na época não tinha youtube.com, e encontrar uma música avulsa, sem saber ao menos de qual disco... não era tarefa muito fácil. Na verdade, João e Maria foi escolhida para tocar, apenas por paixão musical e com o passar do tempo fui amadurecendo em minha mão, naturalmente fazendo parte do meu repertório de sempre, oficial! A grandiosa melodia e o interessante arranjo do "Fanuca" me conquistou de cheio.

                     Creio que só faltou me apelidarem de João e Maria, pois usei e abusei da boa vontade dos ouvintes, e confesso que fiz muito sucesso com ela!! Quando marcava alguma apresentação, minha mãe sempre me dava a dica, "não se esqueça de Joãozinho e Maria!" e eu como um bom filho, obediente, não deixava de tocar, e confesso que o bom conselho de minha mãezinha querida, sempre funcionou!!!

                      Após um ou dois anos que já tocava o arranjo, finalmente tive acesso ao original e fiquei assustado com tamanha diferença do que eu propunha em minha interpretação. Realmente, o intérprete tem a OBRIGAÇÃO de saber em que água vai nadar, pois se é em rio desconhecido, meu amigo, melhor não entrar sem antes realizar um bom estudo da coisa em si.

                      Ainda bem que a minha visão da perola chico-buarqueana foi apenas rasa, eu havia transformado a movimentada canção do cara em uma verdadeira obra romântica com grande teor dramático! As notas "saltitantes" da melodia foram "desempenadas", "lixadas" e "polidas", e aquele detalhe rítmico que dá toda a caracterização da melodia, foi simplesmente execrada da música.

                      Com a consciência refeita, tratei de inserir o balanço original da melodia, porém, no momento chave, onde achei melhor fazer, pois a simplicidade da canção popular, muitas vezes soa repetitivo na hora de solar a música. Esta sabedoria e bom senso estético me obrigou a melhorar o que já estava bonito, porem, desta vez, com a coerência que a música pede!

                      Por enquanto, fico-lhes devendo um vídeo com a minha interpretação de João e Maria. Enquanto isso, vamos apreciando a versão do próprio autor, Chico Buarque!






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